terça-feira, agosto 19, 2008

Lavorare stanca


Trabalho, trabalho, trabalho. Nada mais importa no infame desconcerto da vida. A matéria é torpe, o amor, incerto, o futebol "uma caixinha de surpresas", a felicidade uma contradição em termos - só mesmo o trabalho dispensa definições e adjetivos. Trabalhar ou morrer de fome, à míngua, humilhando-se preguiçosamente. Trabalhar pra caralho ou estirar-se na cama surtado, ansioso ou deprimido, remoendo dissabores, nos braços de uma ressaca sem fim. Trabalhar impassível no meio da tempestade, errando, acertando, caindo, levantando, seguindo a lição de Sísifo... Muito trabalho sem diversão faz de Jack um bobão. Escrever um livro sobre ou chacinar o pessoal do escritório? Nada disso, camarada - apenas o de sempre, o simples, o fácil: trabalhar o tempo todo, o dia inteiro, passar noites em claro trabalhando em moto contínuo, ao menos até que o maldito telefone toque, essa porra de telefone que nunca toca. Trabalhar sem pensar muito na vida, nem viver pensando em alguém que nunca liga quando você espera, e que também deve estar trabalhando à beça nesse instante, aliás bem mais que você, seu vagabundo de merda.

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