
Quando li o livro de Fante, aos 17 anos, sabia que nunca mais esqueceria a história de Arturo Bandini. Não que minha identificação com um escritor fudido, autor de um conto chamado "O Cachorrinho riu" e escravo emocional de uma garçonete mexicana me deixasse à vontade. Mas aquele filho da puta tinha acabado com a minha raça, irremediavelmente - e disso eu não podia mais fugir. A histórica tradução de Paulo Leminski - livre e passional como Camila, crítica e autoral como Bandini - sublinhava este selo de amor perene à primeira leitura, à última releitura e, sobretudo, à próxima, de malas prontas, rumo a Los Angeles... E agora, Arturo, seu otário, o que vamos fazer?
Li "Pergunte ao pó" por sugestão de um amigo. "Esse romance é sua cara, você vai se amarrar, o cara é mais idiota que eu e você juntos" - ele disse. O cara estava coberto de razão. O livro me hipnotizou covardemente: só deu pra largar quatro horas depois, com olhos vermelhos e o coração em frangalhos, tomado de inveja e gratidão pelo autor daquilo. Li todos os títulos que a Brasiliense publicou em seguida, e mesmo sem ter feito nada comparável a'Pergunte ao pó" (não apenas seu melhor trabalho, mas um dos livros mais legais da vida de muita gente legal) Jonh Fante é sempre aquilo: certeiro, hilário, seco, comovente, profissional.
Como Arturo, nem sempre amamos o que há de melhor em nós mesmos ou nos outros. Talvez seja essa a grande moral da sua paixão tragicômica por Camila Lopez - para mim até hoje uma das melhores imagens de amor sincero que colhi nos canyons da literatura americana, essa boa companheira de viagens solitárias e decisivas.
O resto é deserto, luar e sertão.
...
Last Poem (to C.L.)
Poeira da bondade
é meu nome:
o dela? Ask the dust,
my dearest -
sim, pergunte a Bandini,
a John Fante
e a mais
ninguém
sob o limbo
de olhos fixos
na filha do deserto:
cativa saudade
muda miragem
do incerto