domingo, maio 11, 2008

Sobre pessoas que vão e ficam


Por mais que eu procure explicar e justificar a persistência de certas pessoas em minha memória, sempre me deparo com o absurdo inaceitável de tentar representá-las em relação ao que sinto ou senti por elas. Em nome do apego, da imaturidade emocional ou do mero medo de perdê-las, alimentei o péssimo hábito de caracterizá-las a partir da impressão que me causaram desde o instante em que as conheci até o momento em que, intencionalmente ou por acaso, sumiram do mapa sem deixar pistas.
Minha má formação encontra aqui sua faceta incômoda e desastrosa. Nunca lidei bem com a rejeição, a perda e suas variantes; na maioria dos casos, sinto-me o único responsável por tudo - o que logicamente não corresponde à verdade. Mas quem quer saber da verdade, quando percebe que não há argumentos válidos num diálogo que se torna monólogo? Delírios autodestrutivos vão sendo moldados pelas garras do ressentimento e da melancolia; pensamentos e atos falhos alimentam uma dor austera que se desdobra em fúria, apatia, revolta ou resignação. A voz da consciência conclui, implacável:
"Que papelão, Pataca! Até quando você vai continuar se comportando como um Hamlet do subúrbio?"
A senhora está certa. A senhora está sempre certa. I beg your pardon, milady. Agora, com sua licença, vê se arruma o que fazer e me deixa quieto, remoendo meus fantasmas domésticos, sob o olhar voluptuoso da caveira de meu pai.

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